Saint Denis - França

16.11.09

(Basílica de Saint Denis - Paris)

Saint Denis (ou São Dionísio) é um santo e mártir cristão. No século III ele foi Bispo (talvez o primeiro) de Paris e ficou conhecido posteriormente como Patrono de Paris.

Seu martírio se deu em aproximadamente 250 DC e foi assim, segundo a lenda: Foi condenado à morte por decapitação pelos sacerdotes pagãos. Foi decapitado no monte mais alto de Paris (Montmartre - monte dos mártires), onde dizem existia um local de adoração pagão. De acordo com a lenda, depois de ser decapitado, Saint Denis abaixou-se, pegou sua própria cabeça e saiu andando, por 2 milhas, pregando o evangelho ao longo de todo o caminho... No lugar onde parou e, de fato, morreu, foi erguido um pequeno santuário que, mais tarde, virou a Basílica de Saint Denis (Rue d´Alesia metro: Saint-Denis-Porte de Paris), que acabou se tornando o lugar onde estão sepultados os reis da França.

No Pantheon em Paris à esquerda de quem entra tem um mural gigante mostrando a cena descrita acima.

(O martírio de Saint Denis - Pantheon)

Também, no Portal da Virgem, à esquerda da Notre-Dame, para quem olha de frente, uma das esculturas que emolduram o portal mostra Saint Denis, com a cabeça na mão.


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Abelardo e Heloísa - Romance e Tragédia na Idade Média

4.11.09


Pois é, ando mesmo inspirada para o amor... tanto que conto hoje uma das histórias de amor que mais me tocaram... mês passado em Paris, visitamos alguns locais que marcaram a vida desse casal fascinante.  Adoro passear por lugares sabendo o que aconteceu ali. De certa forma é uma maneira de vivenciar uma história, como voltar no tempo, ainda que na imaginação. Espero que curtam tanto quanto eu!

Abelardo e Heloísa são um dos mais célebres casais de todos os tempos, conhecidos pelo romance que mantiveram e também pela tragédia que os separou. Um amor medieval que se eternizou...

O romance teve início em Paris quando Abelardo, um renomado professor e filósofo, considerado um dos maiores pensadores do século 12, viu em Heloísa qualidades que não havia encontrado antes em nenhuma outra mulher. Ela era excepcional tanto em beleza quanto em inteligência e muito apreciava os debates filosóficos acalorados. Sobrinha do Cônego Fulberg, Heloísa era fluente em Latin, Grego e Hebreu e seu tio era obcecado com a idéia de prover à menina a melhor educação disponível na ocasião. Além do que, estava na flor da idade, com apenas 17 anos.

Enamorado, Abelardo sugere a Fulberg, que era grande admirador do professor e filósofo,  viver com eles e, assim, daria continuidade à educação de Heloísa sob a supervisão do tio. Como diz minha vó, quando se junta a estopa e a gasolina, vem o diabo e assopra... pois não tardou nada para que o romance florecesse e explodisse em paixão. Porém, naquela época, os mestres educadores deveriam ser castos e, além do que, Abelardo infringiu a mais básica lei da hospitalidade, desrespeitando sobremaneira a honra de seu anfitrião.


Quando o romance foi descoberto, o tio furioso expulsou Abelardo de sua casa e interferiu na carreira do professor. Abelardo e Heloísa, no entanto continuaram a se encontrar às escondidas e, inclusive, tiveram um filho que se chamou Astrolábio (!). A fim de aplacar a ira do tio, Abelardo propôs um casamento secreto que, após certa relutância, foi aceito e concretizado. Pouco tempo depois o casamento foi revelado e Heloísa foi influenciada por Abelardo a entrar para um convento. Ela não queria e seu tio, acreditando que Abelardo queria ver-se livre dela, mandou castrá-lo. Envergonhado, humilhado e impedido de prosseguir com sua carreira, Abelardo também ingressou na vida monástica. Ainda assim, apesar de não se verem, trocaram correspondência que, mais tarde, ficou conhecida como As Cartas De Amor de Heloísa. A mesma escrevia com tamanha paixão e utilizou-se das mesmas como única forma de vivenciar o seu tão grande amor, que fora perdido por conta das circunstâncias.



Curiosodades:

- A principal obra de Abelardo chama-se Dialética e foi a obra de lógica mais influente até o final do século XIII em Roma, onde foi usada como manual escolar, já que a lógica era ministrada como parte do curriculum, fornecendo aos estudantes os argumentos e armas para às disputas metafísicas e teológicas.

- De 1113 a 1118 Abelardo lecionou na escola catedral de Paris. A agitação doutrinal provocada por Abelardo, repercutiu-se, também, no modo de ensino que sofreu completa revolução. Romperam-se as formas de ensino da velha escola platônica, criando-se o embrião do que viria a ser o ensino universitário, inteiramente diferente do das escolas locais existentes.

- Heloísa e Abelardo nunca deixaram de se amar. Anos mais tarde Abelardo construiu uma escola-mosteiro perto de Heloísa. Viam-se diariamente, mas não se falavam, apenas trocavam cartas.

- Abelardo morreu em 1142, com 63 anos de idade. Heloísa mandou construir uma sepultura em sua homenagem. Em 1162 morre Heloísa e a seu pedido, foi sepultada ao lado de Abelardo.

- Em 1817 os restos mortais dos dois amantes foram levados para o cemitério do Padre Lachaise por ordem de Josephine Bonaparte. Dizem que quem está solteiro deve levar flores e colocá-las nas mãos de Heloísa, para que encontre seu verdadeiro amor.

(Túmulo de Abelardo e Heloísa)

- O filme Em Nome de Deus (Stealing Heaven) , lançado em 1988, conta a história dos dois amantes, do Diretor Clive Donner

- Quai aux fleurs, 9 – Ile de la Cite – Paris é o endereço onde moraram, na casa de Fulberg. Bem pertinho da Notre-Dame.


"É certo que quanto maior é a
causa da dor, maior se faz
a necessidade de para ela
encontrar consolo, e este
ninguém pode me dar, além de ti.
Tu és a causa de minha pena,
e só tu podes me proporcionar conforto.
Só tu tens o poder de me entristecer,
de me fazer feliz ou trazer consolo."

( Trecho de uma das Cartas de Heloísa)


Não é lindo esse romance que sobreviveu apesar de toda tristeza e separação? Um amor verdadeiro não se desfaz com o tempo nem com a distância. Fica assim, marcado na eternidade.


Rouen - Normandia - França

3.11.09

Santa Joana d´Arc

Escrevo esse post em homenagem à Rebeca, do site Néctar da Flor, cuja mãe se chamava Joana d´Arc, conforme ela mesma contou em um de seus carinhosos comentários aqui no blog...

O nome Normandia tem origem nos viquingues, homens do norte, que subiram o rio Sena no século IX. Saqueadores que viraram colonos, eles construíram sua capital em Rouen. A cidade é conhecida como o lugar onde Joana d’Arc, a Donzela de Orleans, foi queimada em 1431, na Place du Vieux-Marché. Hoje, existe ali a igreja de Ste-Jeanne-d’Arc.  Um prédio moderno, de estilo nórdico, onde pode-se encontrar os vitrais da antiga igreja de Saint-Vicente, destruída durante os bombardeios da segunda guerra mundial.
A Cruz enorme atrás da igreja marca o local onde a Santa foi queimada na foegueira.

(Interior da Igreja Joana d´Arc)

O ponto forte da cidade é uma catedral pintada algumas vezes por Monet, motivo de orgulho para seus habitantes. A catedral Notre-Dame é uma obra-prima da arte gótica que sobreviveu, apesar de seriamente avariada, aos bombardeios da guerra. Dentro da igreja pode-se visitar uma amostra fotográfica que retrata a destruição e a posterior restauração da bela obra gótica. Também dentro da igreja encontra-se o túmulo onde foram depositadas as vísceras de Ricardo Coração de Leão.
 
(Notre Dame de Rouen - Monet)
 
(Túmulo de Ricardo Coração de Leão)
 
As ruelas tortuosas que levam até a Place du Vieux-Marché são repletas de casinhas estilo normando, com madeirame à vista. Além do que, lojinhas diversas, inclusive de flores e comidinhas enfeitam todo o caminho.

(Place du Vieux-Marché)

 
Outros pontos de interesse são a rua do Relógio, o Museu Joana d´Arc, a Igreja St-Maclou e o museu de belas-artes, que inclui obras de Caravaggio e Velásquez, entre outros, inclusive a Catedral de Rouen, de Monet.


Joana d´Arc nasceu em Domrémy e e foi uma heroína da Guerra dos Cem Anos, durante a qual tomou partido pelos Armagnacs, na longa luta contra os borguinhões e seus aliados ingleses.

Em seu julgamento Joana d'Arc afirmou que desde os 13 anos ouvia vozes divinas. Segundo ela, a primeira vez que escutou a voz, ela vinha da direção da igreja e acompanhada de claridade e uma sensação de medo. Dizia que as vezes não as entendia muito bem e que as ouvia duas ou três vezes por semana. Entre as mensagens que ela entendeu estavam conselhos para frequentar a igreja, que deveria ir a Paris e que deveria levantar o domínio que havia na cidade de Orléans. Posteriormente ela identificaria as vozes como sendo do arcanjo São Miguel, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida.

O arcanjo São Miguel é o líder dos exércitos celestiais. Santa Catarina é definida as vezes como uma figura apócrifa a cavalo dos séculos III e IV que morreu com uma idade similar à de Joana; também erudita (patrona de muitas especialidades intelectuais), persuadiu o imperador Maximiliano II que deixasse de perseguir os cristãos. Foi condenada a morrer na roda (um sistema de tortura que fraturava os ossos). A lenda de Margarida diz que ela foi uma mulher depreciada pela sua fé católica ao que lhe ofereceram matrimônio em troca da renúncia a esta fé. Ante sua negação, foi torturada escapando milagrosamente diversas vezes, até sua morte definitiva. Assim morreu virgem e mártir.