As emoções e encantos da Chapada Diamantina – Parte II - Por Flavia Lisboa Porto

11.1.15


Segundo dia: Serra das Paridas e Cachoeira do Mosquito

Difícil escrever o meu lugar favorito na chapada. Mas aqui, certamente é um deles. Sou louca por história e como curiosa que sou, tudo o que me remete à memórias de povos antigos me encanta. A Serra das paridas é um sítio arqueológico descoberto há poucos anos, em 2005, depois de um grande incêndio na região, que antes era conhecida apenas pelas plantações de mangaba.

Escrita rupestre do que aparenta ser um homem saltando de uma cachoeira(?)

O lugar tem milhares de escritas rupestres, (formas de comunicação em desenho pelos povos pré-históricos) de data ainda desconhecida, mas há indícios de que existem há milhares de anos.
 A Universidade Federal da Bahia assumiu a liderança da pesquisa no lugar, que em parceria com universidades europeias, estão em vias de descobrir a idade aproximada. Na PUC-MG é possível ver os fósseis de animais pré-históricos encontrados aqui.

Um ET? E acima, o que seria uma “Nave”? Who knows?

 
 Calendário pré-histórico. Assim os povos que aqui passavam marcavam o tempo.

A vista deste lugar é simplesmente incrível!

Cachoeira do Mosquito
Através de uma trilha de esforço médio é possível chegar à cachoeira do mosquito, que tem este nome por conta dos pequenos diamantes e demais cristais que é possível encontrar aqui. (Mosquito é o nome dado para pedras pequenas, de pouco valor comercial).


Da metade da trilha é possível avistar a cachoeira. Daqui inicia a decida para a cachoeira... Incrível vista e energia do lugar.

Indescritível a emoção, e o frio na barriga de estar diante de uma cachoeira tão imponente.

Terceiro dia – Vale do Capão / Cachoeira da Fumaça
Não poderia ir a Chapada sem conhecer a famosa e imponente Cachoeira da Fumaça. Eu estava em um hotel em Lençois, que fica a 70KM do Vale do Capão, onde eu estava hospedada. Foi o único dia que optei por não contratar uma agencia para o passeio. Fui me aventurar sozinha, pegando um ônibus para Palmeiras, local mais próximo do Vale do Capão, ponto de partida para a trilha da cachoeira da Fumaça.

O transporte em si foi uma aventura: Descobri que no sábado o ônibus daquele horário não iria direto para Palmeiras, mas me deixaria na estrada, 8KM antes. Não deu outra, tive que descer e encarar pela primeira vez na vida um pedido de carona na estrada. Na rodoviária, esperando o ônibus, conheci um casal suíço, perdidinho da silva que iriam para o Capão, e por dificuldades da língua, não conseguiram obter ajuda adequada do motorista, alguns guias “abelhudos” inclusive tentaram oferecer transportes alternativos para o local por uma “bagatela de R$ 300,00”. Eles estavam quase aceitando, quando eu me metí e pedi sugeri que me seguissem, pois estava indo para lá. E eles toparam: Encararam não apenas o pedido de carona na estrada, como fazer a trilha da fumaça comigo.

Lembrando que, o Vale do Capão é um lugar muito “ roots”, de infraestrutura precária, mas uma vibe incrível. É um vilarejo que me lembra muito arembepe, pela quantidade de hippies no lugar e pela cultura alternativa. O acesso é difícil e não recomendado em dias de chuva, visto que o acesso acontece por uma ponte caquética de madeira, que a correnteza costuma levar embora. . O risco de ficar ilhado por lá é grande nestas condições. Esqueça grandes facilidades como Iluminação publica farta, wi-fi e celular. O lugar é realmente para desligar do mundo.

Esperando uma alma boa para nos dar uma carona até Palmeiras e depois pegar a van para o Capão.

Companheiros de trilha para a Cachoeira da Fumaça. Lindas paisagens.

Vista do Morro do Chapéu – De tirar o fôlego!



Esta é a única forma de ver a cachoeira da fumaça inteira pelo alto. É assustador (são 380M de altura e algumas pessoas já caíram daqui...)  mas ao mesmo tempo uma das experiências mais fantásticas. A cachoeira tem este nome, pois de tão alta, a água não chega a bater no chão: Ela evapora antes e volta como “fumaça”.


Gran Finale! A Vista da danada. Mas lembrando: a foto não traduz 10% do que vê-la presencialmente. Vale a visita!


Claro, sou maluca, mas nem tanto... Quem tirou a foto pra mim foi um dos guias locais. Olha aonde ele está em pé! Na ponta da pedra. Impossivel ficar alí sem sentir vertigem. Para nóis, mortais, chegar alí, apenas se arrastando (medidas de segurança, pois não há uma barreira de proteção).


Foram 12 KM de trilha ao todo, incluindo uns 4 de subida bem puxada. Mas valeu cada passada, cada gota de suor! Incrível experiência. Ah, a boa ação da manhã com os suíços foi recompensada! Eu que não fazia idéia de como voltar para Lençois, depois dos infortúnios com o ônibus na vinda, consegui uma carona com os alemães que estavam que fizeram a trilha comigo.

Apesar do cansaço dos 12KM de trilha, todos estavam extasiados com a beleza e encantos do lugar.


Ah, não acabou! Antes de voltar para Lençois, minha base, não podia deixar de repor as energias experimentando o incrível pastel de palmito de Jaca! Tradição no vale do Capão (só se encontra lá) e um sabor indescritível.

Quarto e Incrível Dia: Poço Azul, Poço Encantado, Andaraí e Igatu

Poço Azul: A cereja do Bolo!

Lembra que eu comentei que sonhei com um lugar na chapada diamantina, que seria um poço de aguas azuis e cristalinas? Então, aqui é o lugar! Impossível não reconhecer a beleza, energia e até a magia destes lugares.

O acesso à gruta se dá através de uma estrada de chão batido, mais uma travessia de barco ao ponto que nos leva à descida por uma pequena trilha.

Sem dúvidas, o Must da Chapada!

Travessia do Rio em destino ao Poço Azul

 
Flutuação no Poço: Renovação de energias e contato com a magia deste lugar.


A vista lá de baixo também é maravilhosa. Vejam que curioso, a fenda que dá acesso à gruta remete à imagem do mapa do Brasil. Ou Seria do Rio Grande do Sul?

Poço Encantado

Outro lugar mágico. O acesso se dá de carro + trilha.

Descida ao poço e cuidados com a segurança. Siga sempre a orientação de um guia local.


Uma imagem realmente vale mais do que mil palavras. Esta cor linda se dá pela presença de calcário e pela iluminação que entra pela fenda: detalhe, esta época do ano ainda está “feia”, segundo os guias é entre Fevereiro e Outubro, quando os raios solares intensificam o azul deste lugar. Eu já não consigo imaginar imagem mais linda...

Neste local não é permitida a flutuação, pois existe um peixe muito raro lá dentro, apenas identificado aqui, que é um peixe albino e cego, que sofre grandes riscos de extinção, especialmente com o contato humano.

Igatu e Andaraí
Não dá para falar que conheceu a chapada Diamantina, sem conhecer mais sobre sua história. E lá fui eu conhecer.

Por último, mas não menos importante, passagem por Igatú e Andaraí, famosas pela exploração do garimpo. Andaraí é o único lugar ainda autorizado para o garimpo em toda a chapada Diamantina, visto que a região, em que muita gente enriqueceu e outras tantas foram exploradas nas épocas douradas do garimpo, não foram desenvolvidas para outros ofícios, logo, para combater o garimpo clandestino foi dada a permissão para a exploração desta região.

Estátua do garimpeiro, que marca os anos de gloria da exploração mineral na região.

A hoje pacata Andaraí, que já foi um dos mais importantes polos de exploração do diamante.

Mulheres lavam roupa e proseiam no Rio.

Muitos Kms de estradas de terra batida dão acesso a Andaraí .

Agora sabem o porquê da minha recomendação de um 4X4, que no meu caso, o que tinha disponível era uma Kombi

Igatu – A Machu Pichu Brasileira
Igatu foi um outro polo famoso de exploração do Diamante. Inclusive é lá que está o museu do Garimpo com as memórias da época “dourada” da exploração mineral. A cidade é conhecida como Machu Pichu Brasileira por ser formada interamente de pedras, visto que os territórios de garimpo eram demarcados por paredes imensas de pedras colocadas por escravos, uma sobre a outra.


Uma casa inteira de pedras

Vista espetacular e as fortalezas de pedra construídas pelos escravos para demarcar territórios.

Muitas pessoas viveram, e reza a lenda que algumas ainda vivem em fendas que levam a cavernas de Andaraí.


Aqui com o grupo que acompanhei neste último dia e a famosa “Mistery Van/Van do Mistério”, como chamam as pessoas por aqui, propriedade da agência Volta ao Parque, que me guiou em alguns dos passeios por aqui (Que super recomendo, por sinal!)

Bom pessoal, espero que estes comentários tenham inspirado vocês a quem sabe, um dia conhecer a chapada Diamantina. Um dos meus lugares favoritos neste planeta... E olha que já viajei um bocado, hein?

E pra quem pensa que acabou, sigo planejando a próxima viagem ao local, que será uma longa trilha de 3-5 dias que será pelo Vale do Pati, com um foco em turismo social, a idéia é viver com os locais, acampando na casa dos moradores da região. Também quero muito conhecer o buracão e Mucugê! Que venha a próxima viagem!

Flávia querida, obrigada milhões de vezes por compartilhar conosco essa viagem incrível! Fiquei aqui morrendo de vontade de visitar a Chapada Diamantina e, com certeza, quem nos acompanha aqui no blog também vai ficar.

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